Solidão já leva algumas pessoas a alugar amigos de mentira

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Você alugaria um amigo de mentira? No Japão, uma empresa criou um serviço que permite aos clientes reservar amigos falsos para fazer fotos e postar nas redes sociais. A novidade promete ser uma alternativa para quem deseja parecer mais popular no Facebook ou no Instagram. O negócio também oferece namorados e familiares de mentirinha para participar de fotos de pessoas solitárias, segundo reportagem publicada em março pelo site britânico The Independent.

Os clientes podem escolher idade, características físicas e estilo dos falsos companheiros. O serviço custa 57 libras, cerca de R$ 236, e dá direito a duas horas de cliques. O cliente também deve pagar despesas de alimentação e transporte do amigo, caso necessário.

Esta não é a primeira notícia sobre empresas japonesas que oferecem atores para atuar como familiares e amigos. Em 2009, o mesmo jornal britânico noticiou que japoneses contratavam estranhos para interpretar papéis como chefe, amigo e cônjuge em ocasiões como casamentos e aniversários. Mas, afinal, o que levaria uma pessoa a contratar um estranho para fingir uma amizade ou um relacionamento familiar?

Solidão

Embora o aluguel de atores pareça algo extremo, a psicóloga e psicoterapeuta Danielle Ferreira avalia que uma das possíveis explicações para isso seja a solidão. “Essas pessoas estão suprindo a necessidade de ter um amigo de verdade.Creio que o que leva a isso é a dificuldade do ser humano em lidar com a própria solidão. Às vezes, colocamos nos outros a responsabilidade de preencher o nosso vazio”, diz.

Ela lembra que as transformações tecnológicas e o ritmo de vida cada vez mais acelerado podem contribuir para a dificuldade de manter laços com amigos e familiares. “A internet, ao mesmo tempo em que aproxima quem está longe, pode distanciar quem está perto, desfavorecendo a relação de vínculo, o contato direto, a conversa. Além disso, vivemos em uma sociedade narcisista. Estamos tão preocupados em conquistar mais, em satisfazer mais o nosso ego, que deixamos de lado a conversa, o olhar para o outro. Nós queremos ter um lugar, queremos ser alguém, mas no fundo estamos deixando de suprir necessidades fundamentais. Quando pensamos apenas em ter, nós deixamos de ser”, esclarece.

Danielle afirma que a dificuldade de estabelecer relacionamentos sólidos também pode estar ligada a outras causas, como fatos da infância, decepções, baixa autoestima e até excesso de confiança. “Há pessoas que desenvolvem dificuldade em confiar no outro por causa de experiências passadas, outras que carregam a desconfiança desde pequenas, existem vários motivos, um especialista pode ajudar a trabalhar essas questões.”

Consequências

Com o tempo, a solidão pode se tornar uma dor insuportável. Mas o aluguel de um amigo talvez não seja a melhor opção. Nesses casos, é importante buscar ajuda especializada. “Independentemente do motivo que leva a pessoa a não se relacionar com outras, a solidão se torna um problema quando provoca sofrimento. Se ela traz desconforto constante, pode gerar patologias como a depressão”, afirma.

Mudança

A psicóloga conta que é possível superar o sentimento de solidão e fortalecer os laços com outras pessoas. Mas, para isso, é preciso compreender as causas que levam ao problema. O passo seguinte é se reconciliar consigo mesmo. “Precisamos estabelecer uma boa relação com a gente. É muito bom ter a companhia dos outros, mas primeiro temos que aceitar a nossa própria companhia.”

A especialista ainda acrescenta que relações sólidas dependem de dedicação e interesse mútuos. “Amizade é reciprocidade. Não é uma troca, mas é ter aquele olhar para o outro, saber ouvir de verdade e se identificar”, aconselha.

Isolamento

Um estudo recente da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, descobriu que as mídias sociais estão nos fazendo sentir mais solitários. Segundo a pesquisa, pessoas que gastam mais de duas horas por dia em redes sociais têm duas vezes mais chances de se sentirem socialmente isoladas.

Doença difícil de curar

Uma pesquisa publicada na revista Health Psychology indica que o nível de solidão pode impactar diretamente na gravidade e na resposta do organismo a uma doença. O estudo avaliou os níveis de solidão de 159 pessoas entre 18 e 55 anos e a quantidade de amigos que elas tinham nas redes sociais. Em seguida, os voluntários receberam doses iguais de vírus de resfriado comum. A pesquisa revelou que as pessoas que se sentiam mais solitárias manifestaram mais sintomas de resfriado do que as que não se sentiam sozinhas. O resultado indica que pessoas solitárias têm probabilidade 39% maior de apresentar sintomas mais intensos.

Saúde mental abalada

Um levantamento feito por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Swinburne, na Austrália, mostra que a solidão pode levar ao desenvolvimento de ansiedade social, depressão e paranoia. Segundo nota de divulgação do estudo, a solidão pode ser definida como um conjunto de sentimentos negativos que podem surgir quando há uma diferença entre as relações sociais desejadas e reais. “Nós não fomos projetados para estar sozinhos. Somos uma espécie social “, destacou a psicóloga Michelle Lim, responsável pelo estudo feito com mais de mil participantes. A solidão pode levar à piora na saúde física e ao aumento do risco de desenvolvimento de Alzheimer e baixa imunidade.

Dicas da especialista

Confira algumas dicas da psicóloga Michelle Lim, do Centro de Pesquisa Psicológica e Cerebral de Swinburne, publicadas no site da Universidade de Tecnologia de Swinburne:

– Reconheça a solidão e compreenda que ela é um sinal para fazer algo diferente do que você costuma fazer
– Experimente formas positivas de interagir com outras pessoas
– Inclua alimentos saudáveis, exercícios e ar fresco em sua rotina
– Apresente uma linguagem corporal positiva, pois isso mostra aos outros que você está interessado no que eles estão dizendo
– Procure um especialista ou conselheiro para ajudá-lo a sair do círculo vicioso da solidão

Fonte

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