Especialistas acreditam que a tecnologia e o consumo excessivo de informações estejam relacionados ao aumento da depressão e da ansiedade entre os jovens
A geração Z, que engloba quem nasceu entre o fim da década de 1990 e o ano 2009, passa por uma verdadeira falta de felicidade. Esses jovens nasceram em um mundo totalmente digitalizado e tanta tecnologia pode ter interferido no modo como lidam com os desafios da vida real.
Cercados de facilidades, da necessidade de imediatismo e de atenção, quando algo sai desse padrão, eles sentem uma enorme frustração.
Em 2019, o número de jovens com depressão e ansiedade já chamava a atenção. Segundo um levantamento do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps), houve aumento da prevalência de depressão entre jovens de 18 a 24 anos. Essa condição de saúde afetava 11,1% do grupo em 2019, ante 5,6% em 2013.
Com a pandemia, a deterioração da saúde mental dos jovens se intensificou. “Durante o período de isolamento, por exemplo, o uso das redes sociais trouxe, sem dúvida, muitos benefícios, mas a influência das mídias sociais e a exposição excessiva a esses meios de interação podem comprometer a percepção da realidade, especialmente a dos adolescentes. Dados da literatura sobre o assunto comprovam que o uso das redes sociais proporciona riscos à saúde psicológica por causa da dependência. Essa dependência gera problemas sociais e emocionais, como cyberbullying, depressão, ansiedade e transtornos relacionados ao sono e à alimentação”, afirma a psicóloga Patrícia Melo.
Elas são mais impactadas
Apesar de muitos jovens apresentarem esses problemas, as pesquisas indicam que as meninas são as mais afetadas. Um estudo desenvolvido pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), com base em dados de 2021, revelou que a cada cinco adolescentes do sexo feminino pelo menos três afirmaram que sentiam tristeza constantemente ou falta de esperança, o que aponta para um aumento de 60% em comparação com os dados coletados em 2011.
Não é à toa que os adolescentes sejam os mais afetados negativamente pelo mundo virtual, afinal, essa fase, conhecida por ser de transição entre a infância e a vida adulta, é marcada pelo desenvolvimento em todos os sentidos e, por isso, o indivíduo está mais vulnerável. No caso das meninas, o hábito de se comparar com as outras é um fator que contribui para a sensação de tristeza. Confrontar a vida e o corpo com as fotos de quem expõe imagens adulteradas e momentos supostamente perfeitos mexe com a autoestima e estimula a insegurança delas.
“Na adolescência, os indivíduos tendem a vivenciar conflitos de identidade decorrentes das inúmeras mudanças físicas e emocionais que estão experimentando. Paralelamente a isso, é exigido deles que tenham mais responsabilidade ao realizar escolhas e lidar com suas consequências. Contudo o que se observa de mais significativo nessa fase é a necessidade de aceitação e pertencimento deles. O desejo de ser aceito e de fazer parte de um grupo influencia e até determina o comportamento dos jovens”, relata Patrícia.
O uso de drogas, álcool e cigarro afeta muito os adolescentes mais vulneráveis, aqueles que, para participarem de determinado grupo, cedem às ofertas de supostos amigos. E até quem está dentro de casa não está seguro: há pouco tempo, dois adolescentes foram apreendidos pela polícia acusados de cometerem violência sexual, chantagearem vítimas e estimularem a automutilação e o suicídio por meio de uma rede social voltada para a comunicação entre usuários de videogames. Esse cenário reforça a importância de proteger os adolescentes.
Formando a rede de apoio
Proteger o adolescente das armadilhas virtuais não depende apenas do monitoramento do que ele faz on-line. Esse passo é importante, mas deve ser acompanhado do diálogo e do companheirismo entre pais e filhos e ter como base a confiança e o exemplo. “A criança que cresce em um ambiente familiar seguro e saudável – em que as figuras paternas adotam os cuidados físicos necessários e o acolhimento emocional e no qual existem regras claras, diálogo e amor – sem dúvida crescerá com mais autoconfiança e menos vulnerabilidade emocional”, afirma Patrícia.
Para ela, a base para usufruir de uma saúde mental plena na vida adulta deve ser construída na infância e essa missão cabe aos responsáveis pela criança: “a primeira experiência social que vivemos é dentro de casa. É nesse ambiente que aprendemos inúmeros hábitos, valores, deveres, direitos e comportamentos. À medida que crescemos, outros ambientes exercerão influência em quem seremos ao longo da vida, como a escola, por exemplo. A base familiar, no entanto, pode amenizar ou piorar experiências ruins vividas em outros lugares”.
Outro papel importante da família é identificar quando algo está errado. Ela deve observar se estão ocorrendo mudanças de humor, queda repentina no rendimento escolar, alteração no sono e no apetite, marcas pelo corpo, como cortes, comportamento agressivo, palpitações cardíacas e tremores, que também podem indicar problemas de depressão e ansiedade. É imprescindível que pais e responsáveis estejam atentos aos sinais e se coloquem à disposição para ajudar os filhos. Evite desprezar ou minimizar os problemas deles, pois essa reação pode fazer com o que eles busquem ajuda em outros lugares, o que pode piorar o quadro deles e marcá-los para sempre.
Ensinando a fé desde cedo
É comum que o adolescente escolha caminhos inadequados, mesmo tendo pais dedicados. Por isso, é importante que ele seja apresentado à fé inteligente o quanto antes. “Às vezes, os pais dão bom exemplo, mas alguém mais fala na mente desse jovem. Por isso, o contato com a Palavra de Deus é importante. Ela forma uma consciência forte, dá uma referência e a opção de fazer o que é certo. A Palavra de Deus é a verdade que ensina a liberdade de escolha e a consequência dela”, diz o Pastor Walber Barboza, responsável pelo Força Teen Universal (FTU).
Com um ambiente acolhedor, o FTU entende a realidade do adolescente e por meio de inúmeras atividades permite que ele se expresse e se integre. Ali o adolescente é ensinado a aproveitar essa fase para desenvolver habilidades, fazer amizades que verdadeiramente acrescentem algo bom à sua vida e aprender mais sobre a fé. Por meio de eventos como o Teens em Família os pais são orientados sobre como auxiliar na formação dos filhos. “Muitas vezes os pais transferem aos filhos a responsabilidade de terem sucesso e serem o que eles não foram e colocam sobre eles um peso muito grande de culpa. Nós ensinamos aos pais que mais importante do que fazer inúmeras cobranças é investir no futuro espiritual de seus filhos”, conclui o pastor.